terça-feira, 29 de maio de 2012

Déficit de atenção e hiperatividade!




Déficit de atenção e hiperatividade pode continuar na vida adulta (Jornal Hoje)
Transtorno é mais comum entre crianças, mas metade dos casos continua após envelhecer. Tratamento é feito com remédios e não tem cura definitiva.
Se você se esquece de tudo, costuma perder as coisas e tem dificuldade para se concentrar e é sempre impaciente, pode ser portador do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O TDAH é mais comum entre as crianças, mas, segundo os médicos, metade dos casos continua na vida adulta. “Muitas vezes, você encontra um adulto que é abusador de álcool, usa drogas, a vida dele é um caos, não para em emprego, tem múltiplas relações, não consegue manter um relacionamento estável. Quando você entrevista vê que é um portador de TDHA”, diz o psiquiatra Paulo Mattos.
O tratamento do TDAH é feito com medicação, receitada por um psiquiatra. É um transtorno hereditário e não tem cura. “Em torno de 80% do transtorno é genético. Isso significa o seguinte: que há uma chance dessa pessoa ao ter filhos tenha um filho assim ou tenha um neto assim com essas características, então também deve aprender a lidar com isso”, afirma Flávia Sollero, psicóloga da PUC-RJ.
Celso Gorga é jornalista e tem 55 anos. Há oito anos, descobriu que é portador do transtorno. Durante décadas, teve que conviver com a ansiedade, a impulsividade e a falta de paciência. “Eu discutia na fila de banco: ‘por que têm 10 guichês e só dois caixas funcionando? ’. Coisas que outras pessoas conseguem superar numa boa. Eu tinha dificuldade e ficava muito irritado”, explica. Há algumas dicas simples que facilitam o dia-a-dia de quem sofre com o transtorno:
- Abuse de agendas e calendários para organizar tarefas e compromissos;
- Passe as contas para o débito automático;
- Deixe chaves, carteiras e telefones celulares sempre juntos, de preferência perto da porta de casa.
Celso segue todas essas recomendações e diz que, depois de começar o tratamento, virou outra pessoa. “Você vai tomar remédio pro resto da vida, mas você vai ter outro tipo de vida. E eu descobri o TDHA exatamente assim, através de uma reportagem que o meu filho foi levado ao médico, foi diagnosticado, e através dele, comecei meu tratamento”, diz.
Saiba mais
Para tirar outras dúvidas sobre o assunto, a psicanalista e psicopedagoga Josefina Cosomano participou de um bate-papo com os internautas. Confira abaixo os melhores momentos dessa conversa:


Transtorno

Essa nova geração tem conseguido se dar conta dessa questão muito cedo, pois estamos mais atentos a isso. Não é a televisão, internet e outras formas de comunicação que influenciam o problema. Muitos adultos carregam esse transtorno e não se dão conta disso ao longo da vida. Não entendem porque têm dificuldade de se relacionar e transportam essa questão para o outro. Quem apresenta TDHA tem muita energia, algo que a pessoa não consegue parar, e isso chama atenção. Esses adultos passam muitos anos sem se dar conta disso, até que chega um determinado momento e percebem que têm algo que não funciona. São pessoas que não conseguem terminar uma tarefa, não conseguem ficar paradas, geralmente não terminam um projeto. Também têm dificuldade em seguir regras.
Tratamento


É uma questão neurológica. Normalmente é indicado medicação, mas isso não faz com que a pessoa mude sua dinâmica. O paciente não tem consciência das perdas que ele já sofreu ou virá a sofrer. É uma questão de consciência, se você sabe que carrega este elemento a mais, irá trazê-lo para perto de si. Nós afastamos daquilo que nos atrapalha, achando que com isso vamos resolvê-lo. Quando trazemos essa questão e fazemos um trabalho de conscientização, iremos buscar as melhores ferramentas para contornar essa dificuldade.
Ajuda da família e amigos


No caso dos adultos existem algumas particularidades, pois, nesta fase ele já definiu seu espaço e o outro tem dificuldades de entender e lidar com a situação. Se você entende que a outra pessoa é mais agitada, não fique leve tudo que ela faz ou fala ao pé-da-letra, pois saberá que ela está sempre acelerada. Na escola é preciso conscientizar os pais e amenizar a angústia familiar. Não é que o filho não queira fazer algo, mas que existe algo mais forte que o filho. Quando se trabalha com crianças, um grupo de pessoas estão envolvidas. O professor precisa compreender que é importante acolher essa criança, sabendo que ela traz um transtorno para a sala de aula. Precisa entender que ela necessitará respirar de vez em quando, seja saindo da sala ou fazendo outra atividade.
Adolescência


Há um aumento no metabolismo e o jovem fica mais agitado nessa época, mesmo com medicação. Passada essa fase há uma diminuição do transtorno. Por isso, o trabalho psicoterapêutico é importante. Com o passar do tempo, a pessoa vai se dando conta de que forma ele pode lidar com essa condição.  Ela vai perceber que tem maneiras para se controlar, para criar esse freio.

Hiperatividade


Quem tem hiperatividade geralmente tem déficit de atenção, pois muitos detalhes passam e não se tem consciência disso. Algumas pessoas não têm hiperatividade, mas têm déficit de atenção, vivem avoadas, estão voltadas para dentro. É preciso tomar muito cuidado com o diagnóstico, para que não se faça um tratamento errado. O importante é entender quem é essa pessoa antes de rotular o que ela tem. Antes de levar uma criança a um especialista, é importante que os pais visitem um consultório primeiro e se sintam à vontade com o profissional. Isso tira da criança a angústia de conhecer alguém sem se sentir bem. Se os pais confiarem, os filhos ficarão mais à vontade.
O que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). Em inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.
Existe mesmo o TDAH?
Ele é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola.
Não existe controvérsia sobre a existência do TDAH?
Não, nenhuma. Existe inclusive um Consenso Internacional publicado pelos mais renomados médicos e psicólogos de todo o mundo a este respeito. Consenso é uma publicação científica realizada após extensos debates entre pesquisadores de todo o mundo, incluindo aqueles que não pertencem a um mesmo grupo ou instituição e não compartilham necessariamente as mesmas idéias sobre todos os aspectos de um transtorno.
O TDAH é comum?
Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ele ocorre em 3 a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.
Quais são os sintomas de TDAH?
O TDAH se caracteriza por uma combinação de dois tipos de sintomas:
1)Desatenção
2) Hiperatividade-impulsividade
O TDAH na infância em geral se associa a dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores. As crianças são tidas como "avoadas", "vivendo no mundo da lua" e geralmente "estabanadas" e com "bicho carpinteiro" ou “ligados por um motor” (isto é, não param quietas por muito tempo). Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos. Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites.
Em adultos, ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem como com a memória (são muito esquecidos). São inquietos (parece que só relaxam dormindo), vivem mudando de uma coisa para outra e também são impulsivos ("colocam os carros na frente dos bois"). Eles têm dificuldade em avaliar seu próprio comportamento e quando isto afeta os demais à sua volta. São frequentemente considerados “egoístas”. Eles têm uma grande frequência de outros problemas associados, tais como o uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.
Quais são as causas do TDAH?
Já existem inúmeros estudos em todo o mundo - inclusive no Brasil - demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos.
Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento.
O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios). Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos neurotransmissores da região frontal e suas conexões.
A) Hereditariedade: B) Substâncias ingeridas na gravidez: C) Sofrimento fetal: D) Exposição a chumbo: E) Problemas Familiares:

Dúvidas tiradas do site: http://www.tdah.org.br/index.php#
Bem interessante para psicólogos e interessados no assunto esse site!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

As linguagens da psicose.



Abordagem matemática evidencia as diferenças entre os discursos de quem tem mania ou esquizofrenia.

CARLOS FIORAVANTI | Edição 194 - Abril de 2012
© FONTE: ICE / FOTO: LEO RAMOS

Para os psiquiatras e para a maioria das pessoas, é relativamente fácil diferenciar uma pessoa com psicose de quem não apresentou nenhum distúrbio mental já diagnosticado: as do primeiro grupo relatam delírios e alucinações e por vezes se apresentam como messias que vão salvar o mundo. Porém, diferenciar os dois tipos de psicose – mania e esquizofrenia – já não é tão simples e exige um bocado de experiência pessoal, conhecimento e intuição dos especialistas. Uma abordagem matemática desenvolvida no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) talvez facilite essa diferenciação, fundamental para estabelecer os tratamentos mais adequados para cada enfermidade, ao avaliar de modo quantitativo as diferenças nas estruturas de linguagem verbal adotadas por quem tem mania ou esquizofrenia.
A estratégia de análise – com base na teoria dos grafos, que representou as palavras como pontos e a sequência entre elas nas frases por setas – indicou que as pessoas com mania são muito mais prolixas e repetitivas do que as com esquizofrenia, geralmente lacônicas e centradas em um único assunto, sem deixar o pensamento viajar. “A recorrência é uma marca do discurso do paciente com mania, que conta três ou quatro vezes a mesma coisa, enquanto aquele com esquizofrenia fala objetivamente o que tem para falar, sem se desviar, e tem um discurso pobre em sentidos”, diz a psiquiatra Natália Mota, pesquisadora do instituto. “Em cada grupo”, diz Sidarta Ribeiro, diretor do instituto, “o número de palavras, a estrutura da linguagem e outros indicadores são completamente distintos”.
Eles acreditam que conseguiram dar os primeiros passos rumo a uma forma objetiva de diferenciar as duas formas de psicose, do mesmo modo que um hemograma é usado para atestar uma doença infecciosa, desde que os próximos testes, com uma amostra maior de participantes, reforcem a consistência dessa abordagem e os médicos consintam em trabalhar com um assistente desse tipo. Os testes comparativos descritos em um artigo recém-publicado na revista PLoS One indicaram que essa nova abordagem proporciona taxas de acerto da ordem de 93% no diagnóstico, enquanto as escalas psicométricas hoje em uso, com base em questionários de avaliação de sintomas, chegam a apenas 67%. “São métodos complementares”, diz Natália. “As escalas psicométricas e a experiência dos médicos continuam indispensáveis.”
“O resultado é bastante simples, mesmo para quem não entende matemática”, diz o físico Mauro Copelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que participou desse trabalho. O discurso das pessoas com mania se mostra como um emaranhado de pontos e linhas, enquanto o das com esquizofrenia se apresenta como uma reta, com poucos pontos. A teoria dos grafos, que levou a esses diagramas, tem sido usada há séculos para examinar as trajetórias pelas quais um viajante poderia visitar todas as cidades de uma região, por exemplo. Mais recentemente, tem servido para otimizar o tráfego aéreo, considerando os aeroportos como um conjunto de pontos ou nós conectados entre si por meio dos aviões.
“Na primeira vez que rodei o programa de grafos, as diferenças de linguagem saltaram aos olhos”, conta Natália. Em 2007, ao terminar o curso de medicina e começar a residência médica em psiquiatria no hospital da UFRN, Natália notava que muitos diagnósticos diferenciais de mania e de esquizofrenia dependiam da experiência pessoal e de julgamentos subjetivos dos médicos – os que trabalhavam mais com pacientes com esquizofrenia tendiam a encontrar mais casos de esquizofrenia e menos de mania – e muitas vezes não havia consenso. Já se sabia que as pessoas com mania falam mais e se desviam do tópico central muito mais facilmente que as com esquizofrenia, mas isso lhe pareceu genérico demais. 
Em um congresso científico em 2008 em Fortaleza ela conversou com Copelli, que já colaborava com Ribeiro e a incentivou a trabalhar com grafos. No início ela resistiu, por causa da pouca familiaridade com matemática, mas logo depois a nova teoria lhe pareceu simples e prática.
Para levar o trabalho adiante, ela gravou e, com a ajuda de Nathália Lemos e Ana Cardina Pieretti, transcreveu as entrevistas com 24 pessoas 
(oito com mania, oito com esquizofrenia e oito sem qualquer distúrbio mental diagnosticado), a quem pedia para relatar um sonho; qualquer comentário fora desse tema era considerado um voo da imaginação, bastante comum entre as pessoas com mania.
“Já na transcrição, os relatos dos pacientes com mania eram claramente maiores que os com esquizofrenia”, diz. Em seguida, ela eliminou elementos menos importantes como artigos e preposições, dividiu a frase em sujeito, verbo e objetos, representados por pontos ou nós, enquanto a sequência entre elas na frase era representada por setas, unindo dois nós, e assinalou as que não se referiam ao tema central do relato, ou seja, o sonho recente que ela pedira para os entrevistados contarem, e marcavam um desvio do pensamento, comum entre as pessoas com mania.
Um programa específico para grafos baixado de graça na internet indicava as características relevantes para análise – ou atributos – e representava as principais diferenças de discurso entre os participantes, como quantidades de nós, extensão e densidade das conexões entre os pontos, recorrência, prolixidade (ou logorreia) e desvio do tópico central. “É supersimples”, assegura Natália. Nas validações e análises dos resultados, ela contou também com a colaboração de Osame Kinouchi, da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, e Guillermo Cecchi, do Centro de Biologia Computacional da IBM, Estados Unidos.
Resultado: as pessoas com mania obtiveram uma pontuação maior que as com esquizofrenia em quase todos os itens avaliados. “A logorreia típica de pacientes com mania não resulta só do excesso de palavras, mas de um discurso que volta sempre ao mesmo tópico, em comparação com o grupo com esquizofrenia”, ela observou. Curiosamente, os participantes do grupo-controle, sem distúrbio mental diagnosticado, apresentaram estruturas discursivas de dois tipos, ora redundantes como os participantes com mania, ora enxutas como os com esquizofrenia, refletindo as diferenças entre suas personalidades ou a motivação para, naquele momento, falar mais ou menos. “A patologia define o discurso, não é nenhuma novidade”, diz ela. “Os psiquiatras são treinados para reconhecer essas diferenças, mas dificilmente poderão dizer que a recorrência de um paciente com mania está 28% menor, por mais experientes que sejam.”
“O ambiente interdisciplinar do instituto foi essencial para realizar esse estudo, porque eu estava todo dia trocando ideias com gente de outras áreas. Nivaldo Vasconcelos, um engenheiro de computação, me ajudou muito”, diz ela. O Instituto do Cérebro, em funcionamento desde 2007, conta atualmente com 13 professores, 22 estudantes de graduação e 42 de pós, 8 pós-doutorandos e 30 técnicos. “Vencidas as dificuldades iniciais, conseguimos formar um grupo de pesquisadores jovens e talentosos”, comemora Ribeiro. “A casa em que estamos agora tem um jardim amplo, e muitas noites ficamos lá até as duas, três da manhã, falando sobre ciência e tomando chimarrão.”

Artigo científico
MOTA, N.B. et al. Speech graphs provide 
a quantitative measure of thought disorder 
in psychosis. PLoS ONE (no prelo).


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Vamos sorrir mais e viver mais!




Vamos sorrir mais e viver mais!

Já dizia Vinicius de Morais: “A alegria é a melhor coisa que existe”. Desta vez, ciência e poesia andam juntas: o otimismo também é um amigo fiel da saúde e da longevidade.
Como exemplo vamos imaginar um corpo de água até a metade, você diria que ele está meio cheio ou meio vazio? Se a resposta for à primeira (meio cheio), parabéns! Você faz parte do grupo dos otimistas e sua saúde só tem a ganhar. Pesquisas sempre mostram como o pensamento positivo previne doenças e ajuda a superá-las. O mote não é novidade para ninguém. “Desde o grego Hipócrates, o legendário pai da medicina, que viveu 100 anos antes da era cristã, já se sabia que as emoções podem piorar ou desencadear vários males. Mas foi, sobretudo nas ultimas três décadas que os cientistas conseguiram explicar como o otimismo contribui para nossa saúde”. (CRISTINA NABUCO)
“Hoje sabemos que há uma relação intima entre os sentimentos e o funcionamento do organismo. O pensamento positivo favorece a liberação de mensageiros químicos cerebrais que ativam o sistema imunológico. O pessimismo ao contrário, desativa as defesas, deixando a pessoa mais vulnerável ao ataque de agentes externos (como vírus e bactérias) ou internos (como as células defeituosas que dão origens a tumores)”.  (Carmen Bueno Neme, professora da UNESP em Bauru SP) Então é certo, otimistas vivem mais.
Uma coisa parece certa: para vivemos mais e melhor não basta caprichar só na alimentação e na malhação. É preciso também exercitar o espírito. Então vou trazer algumas sugestões para treinar as emoções da forma, de acordo com o Psiquiatra paulista Cyro Masci:
·         Dê risadas. Não importa que o ditado esteja surrado, rir continuar sendo um excelente remédio. O médico americano William Fry, estudioso do riso, compara uma boa gargalhada a um jogging interno: exercita os músculos da face, ombros, diafragma e abdômen. Estimula a respiração, a atividade cardíaca, a circulação e a oxigenação dos tecidos. Portanto, não perca oportunidades de dar risadas. Vale assistir a comédias, ouvir piadas, jogar conversa fora com os amigos.
·         Aprenda a lidar com a raiva. Pessoas explosivas têm quatro vezes mais chances de desenvolver doenças do coração do que as demais. O mais saudável para da fim á raiva é aprimorar a tolerância e praticar o velho e eficiente ‘conte até dez antes de agir’.
·         Cultive amigos verdadeiros. Laços afetivos intensos com amigos, familiares, colegas e até animais domésticos amortecem as dificuldades cotidianas. Pesquisas sugerem que, em geral, as pessoas casadas (ou com parceiro fixo) são mais saudáveis do que as solteiras. Mas, convém destacar, só se a relação tiver boa qualidade. Senão, causa tamanho desgaste que arrasa o sistema imunológico.
·         Busque apoio quando necessário. Mesmo nos casos mais graves o suporte emocional faz diferença.
Então é isso, vamos cultivar mais a alegria, o pensamento positivo e estimular cada vez mais o riso, para que possamos viver mais e melhor.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Quando amores se vão



Um renomado escritor, Friedrich Nietzsche, uma vez afirmou que “amamos o desejo mais do que o objeto desejado“. Os psicanalistas parecem concordar plenamente com a afirmação. O desejo não tem lugar fixo, simplesmente desejamos desejos. Um outro grande escritor, Jacques Lacan, dizia que “O desejo do homem é o desejo do Outro“.
Afinal, penso, a grande dor dos amores que se vão não é propriamente a incapacidade de encontrar uma pessoa melhor (seja ela mais bonita, mais inteligente ou o que for). Não lutamos propriamente para manter pessoas, mas para manter sonhos. A grande dor dos amores que se vão são os sonhos estilhaçados, as esperanças frustradas e a necessidade de reconstruir todo nosso mundo sem saber, literalmente, por onde começar. Tudo que antes se fazia acompanhado, perde o sentido. Os melhores pratos são deixados pela metade, o vinho não tem mais sabor, as pessoas tornam-se chatas e irritantes e tudo ao nosso redor perde completamente o sentido.
Erguer-se quando nossos amores se vão representa não apenas esquecer alguém, mas reconstruir um mundo. Um mundo que criamos em nossa imaginação, que projetamos em um futuro distante e que agora se desfez, em um piscar de olhos como quem acorda de um sonho. É tão normal chorar por amores que se vão, quanto querer voltar ao sono quando acordamos de um sonho. Construir um novo mundo é bem mais difícil que derrubar um antigo. Reconstruir sentidos e criar novas necessidades é um desafio nem sempre tão fácil. Não apenas isto. Penso ser a dor dos amores que se vão necessária. Alguém que nunca sentiu o peito apertar e uma incontrolável vontade de fazer o que “não deve” (uma ligação aos prantos no meio da madrugada, uma mensagem de saudades ao meio-dia, entre tantas coisas tão comuns aos que sentem no peito uma asfixia quase insuportável) deixa de aprender muito. “Ame, ame até doer, o amor só é verdadeiro quando dói“. Não há mal em entregar-se aos sonhos e se deixar levar pelos desejos. Mesmo que estes nos venham a render noites em claro e dias intermináveis.
Nunca ter sofrido por amor não é motivo de orgulho. A dor do amor nos torna mais humanos, nos ensinam que sentimentos não são coisas bobas e que não devemos despertar desejos que não possamos corresponder. Talvez o único conforto nos amores que se vão é saber que após a turbulência teremos nos tornado pessoas melhores. Saber que cresceremos ao reconstruir um novo mundo, que nenhum amor é insuperável e que nossos desejos são voláteis quando não possuem terreno firme para manter-se. Enfim, é isso!

David Rêgo

Sociólogo, antropólogo e cientista político (UFRN). Mestre em sociologia e políticas públicas (UFRN) Membro do conselho editorial e um dos fundadores da Carta Potiguar. Professor do ensino médio e superior. Áreas de interesse: Artes marciais, política, movimentos sociais e tecnologia.

terça-feira, 8 de maio de 2012

FAMÍLIA E DIVERSIDADE!


FAMÍLIA E DIVERSIDADE: OS NOVOS DESAFIOS PARA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA

Para começar a falar um pouco sobre o tema acima, faço em primeiro lugar uma analogia a tudo que foi estudado sobre o assunto, abordando uma grande queixa escutada nos consultórios de psicologia: “Eu queria tanto ter uma família normal”. Filhos de pais separados sentem da ausência do pai (ou da mãe), mulheres sozinhas queixam-se que não conseguiram constituir famílias, e mulheres separadas acusam-se de não terem sido capazes de conservar as suas. São várias as queixas ouvidas, e todas partem da grande questão que a família não é mais a mesma. Visto que, a própria sofreu várias modificações ao longo do percurso existencial e, portanto, não é a mesma comparando o modelo de família idealizado, modelo que corresponde ás necessidades da sociedade burguesa emergente em meados do século XIX.
Na segunda metade do século XX a família hierárquica, que era organizada em torno do poder patriarcal, começou a ceder lugar a um modelo de família, onde o poder era distribuído de forma mais igualitária entre homem e mulher, e também entre pais e filhos. O pátrio poder foi abalado, visto que, a mulher passou a ter ingresso no mercado de trabalho, e não era mais tão dependente do chefe da família quanto às crianças geradas pelo casal. Com tudo isso, o número de separações e divórcios veio aumentando, assim como a idade em que as mulheres vêm decidindo se casar. O número de relações não legalizadas entre jovens também vêm crescendo, em função da sua independência financeira e também em condições de arriscar um pouco mais nas escolhas amorosas, quanto em função da liberdade sexual conquistada há quase meio século pelas mulheres. Isso nos ajuda a entender o tabu da virgindade, único freio capaz de fazer com que jovens adultas adiassem por tanto tempo o início de sua vida sexual á espera do casamento legal e definitivo. Posteriormente, veio à descoberta e democratização das técnicas anticoncepcionais, o tabu que sustentava o casamento monogâmico deixou de fazer sentido. Em decorrência, hoje, o número de mães solteiras e a gravidez não programada entre as adolescentes vêm aumentando cada vez mais.
Um exemplo das transformações que a família sofreu parte da Europa, nos séculos XVI, XVII e XIX, onde primeiramente a criança não era vista como sendo ser humano e seus cuidados eram destinados aos empregados, sendo os bebês amamentados pelas amas de leite (no caso das famílias que faziam parte da aristocracia), enquanto que nas famílias dos camponeses as crianças não eram dignas de atenção e seus cuidados geralmente eram divididos com os avôs ou com as moças solteiras. As relações familiares dessa época eram distantes, mas com o tempo as relações da família vão se tornando mais íntimas, privadas e com maior intensidade emocional, como afirma Vainer (1999).
            Nas configurações familiares novas formas de convívio vêm sendo improvisados em volta da necessidade que não se alterou de criar os filhos, frutos de uniões amorosas temporárias que nenhuma lei de Deus ou dos homens consegue mais obrigar a que se eternizem. A sociedade contemporânea conduzida por leis de mercado que lançam imperativos de bem-estar, prazer e satisfação de todos os desejos, só reconhece o amor e a realização sexual como fundamentos legítimos das uniões conjugais. Essa mudança moral proporciona a possibilidade de se tentar corrigir o próprio destino, que cobram seu preço em desamparo e mal-estar. O desamparo se faz sentir porque a família deixou de ser uma sólida instituição para se transformar num agrupamento circunstancial e precário, regida pela lei menos confiável entre os humanos: a lei dos afetos e dos impulsos sexuais. O mal-estar vem da divida que cobramos ao comparar a família que conseguimos improvisar com a que nos ofereceram nossos pais. Na verdade estamos em divida com o modelo de família burguesa, que as condições da sociedade contemporânea não permitem mais que se sustente a não ser á custa de grandes renúncias, e grande infelicidade para todos os seus membros. Esquecemo-nos que, família era aquela, e a que custo psíquico, sexual e emocional ela se manteve, durante um curto período de menos de dois séculos, como célula- mãe da sociedade.
Entendo por tudo isso que família é sistema de relações que se traduz em conceitos e preconceitos, ideias e ideais sonhos e realizações. É uma instituição que mexe com nossos mais caros sentimentos e que muda com a evolução da cultura, de geração para geração.
            A partir de todas essas transformações nas famílias, os laços conjugais já não escondem a base erótica. Os filhos deixaram de ser a finalidade, ou a consequência inevitável dos encontros eróticos. As separações e as novas uniões foram formando aos poucos um novo tipo de família que vamos chamar de família tentacular, diferente da família extensa pré-moderna e da família nuclear que vai aos poucos perdendo a superioridade. Após a segunda metade do século XX a família desprivatizou-se, porque o núcleo central da família contemporânea foi implodido, atravessado pelo contato íntimo com adultos, crianças e adolescentes vindas de outras famílias. Na confusa árvore genealógica da família tentacular, irmãos não-consanguineos convivem com padrastos ou madrastas, ás vezes já de uma segunda ou terceira união de um de seus pais, acumulando vínculos profundos com pessoas que não fazem parte do núcleo original de suas vidas.
            Elisabeth Roudinesco escreve: “a família é a formação de organização social mais persistente, mesmo levando em consideração diferenças históricas e culturais. A família que está em desordem, na expressão da autora é justamente a família nuclear contemporânea, herdeira da família vitoriana”. Sabemos que a família mudou, mudaram os papéis familiares, os homossexuais reivindicaram o casamento institucional, solteiros de ambos os sexos lutam pelo direito de adotar crianças e constituir uma família normal.
            Os papéis familiares tradicionais não são mais, necessariamente, desempenhados pelas pessoas que, na estrutura do parentesco, correspondem a pai, mãe e filhos. Se existir para a criança alguém que faça função paterna e alguém que se encarregue amorosamente dos cuidados maternais, a família estruturará edipicamente o sujeito. É dentro dessa estrutura chamada família que a criança vai se indagar sobre o desejo que a constituiu, o desejo do outro e vai se deparar com o enigma de seu próprio desejo.  O papel da família na modernidade é formador, o sentido de preparar a criança para suas responsabilidades em relação ás normas de convívio social. Os papéis dos agentes familiares são substituíveis, por isso chamados de papéis. O que é insubstituível é um olhar de adulto sobre a criança, a um só tempo amoroso e responsável, desejante que essa criança seja feliz na medida do possível.
Por fim, a família é considerada o núcleo básico de construção do eu. Como cita Lévi-Strauss (apud Roudinesco, 1994): “A família, ao repousar sobre a união mais ou menos duradoura e socialmente aprovada de um homem, de uma mulher e de seus filhos, é um fenômeno universal presente em todos os tipos de sociedade’’.

REFERENCIAS:

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira. Família em movimento. _São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.

GRONENGA e  PEREIRA. Direito de Família e Psicanálise, rumo a uma nova epistemologia. RJ, Imago 2003.

ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed. 2003.

Boa Tarde!